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Ativando insights: A Importância da Matriz de Materialidade na Identificação de Riscos de Integridade de Terceiros

A dinâmica dos relacionamentos corporativos com terceiros em tempos atuais é indubitavelmente mais complexa do que jamais antes experimentado pelas organizações.  São relações multifacetadas, compartilhadas com uma extensa gama de stakeholders e capazes de provocar impactos (positivos ou negativos) quase que imediatos na imagem corporativa.  Esse ambiente torna a necessidade de governança eficaz e gerenciamento de riscos algo primordial.

A matriz de materialidade surge como uma poderosa ferramenta nesse contexto, servindo como bússola estratégica para determinar os principais assuntos de interesse dos diversos públicos (externos e internos) que se relacionam com a organização e, por conseguinte, para apontar riscos relevantes a serem abarcados pelo sistema de governança.  Este é o tema deste texto, com destaque especial para os riscos relacionados à integridade de terceiros.

Esperamos que os comentários adiante tragam boas ideias para sua organização aprimorar seus modelos de mapeamento de riscos e governança.  Boa leitura!

Matriz de Materialidade na Identificação de Riscos de Integridade de Terceiros:

A matriz de materialidade é uma representação de dados em formato de diagrama de quadrantes, que ajuda as organizações a identificarem e priorizarem questões que têm um impacto significativo, tanto para seus stakeholders como para suas operações.  Ao categorizar os riscos em modelo matricial, com base na visão relativa de materialidade desses dois grandes núcleos de interesses – a própria organização e seus stakeholders –, as empresas podem definir nortes estratégicos e orientações táticas que permitam uma alocação eficaz de recursos, estabelecendo um sistema de governança que enderece preocupações e interesses prioritários convergentes entre ambos os grupos.

Veja o modelo de matriz de materialidade abaixo, para uma ideia geral:

ESG Strategy
Ao oferecer uma visão posicional dos assuntos de impacto sob a ótica da própria organização e de seus stakeholders, dando a ambas o mesmo peso, a matriz de materialidade ajuda a refinar, a dar clareza, ao propósito da organização e como persegui-lo, facilitando a escolha de práticas de gestão e governança que garantirão sua sustentabilidade financeira, social e ambiental.
Na seara da governança de integridade de terceiros, em particular, tanto a organização quanto seus stakeholders normalmente dão mais atenção a questões de grande magnitude envolvendo desvios éticos (corrupção, trabalho escravo, crimes ambientais etc.) ou outras situações de grave inconformidade (infrações regulatórias, disputas entre acionistas e gestores, propaganda enganosa etc.) incorridos por suas principais contrapartes de negócio.  Isso se dá porque os problemas de integridade de menor relevância tendem a ficar confinados no ambiente corporativo do próprio terceiro e não ganham publicidade, ao passo que as situações de grande exposição alcançam um “raio de destruição” bem mais amplo.  Com efeito, uma vez que um determinado risco de integridade de um terceiro se materialize, o respectivo impacto pode atingir de forma fulminante a organização, diversas outras organizações e até mesmo toda uma cadeia de suprimentos.
Uma matriz de materialidade ajuda as organizações a ganharem uma visão ao mesmo tempo mais ampla e mais nítida das espécies de riscos de integridade de terceiros de maior importância.  Com isso, recursos e esforços podem ser alocados de forma a prevenir ou mitigar aqueles riscos que sejam mais relevantes para a estratégia da organização, permitindo uma abordagem focada e efetiva, de um ponto de vista estratégico.
 
Matriz de Materialidade como Alavanca para o Desenvolvimento da Estratégia de Gestão de Riscos de Integridade de Terceiros, Numa Visão ESG:

A definição de estratégias ESG é um exercício que não pode prescindir de uma compreensão abrangente dos riscos potencialmente materiais para a organização e de uma visão avançada de gestão desses riscos.  A matriz de materialidade oferece uma abordagem estruturada para alinhar as estratégias ESG estabelecidas pelos gestores da organização com as preocupações mais significativas de seus stakeholders, incluindo investidores, clientes, fornecedores, funcionários, a comunidade em geral, dentre outros.  Esta é uma característica que pode ser empregada pela organização como uma alavanca para a construção de uma percepção aguçada sobre os aspectos de integridade de terceiros que são mais críticos para o êxito de sua estratégia.  Veja como, a seguir:
  • No âmbito das questões ambientais, a matriz de materialidade vai apoiar na identificação dos principais riscos associados às más práticas adotadas por terceiros, tais como desmatamento, degradação do meio ambiente, invasões de reservas ambientais, emissões de carbono, esgotamento de recursos, descartes de materiais nocivos ao meio ambiente etc.  Essas informações são valiosas, por exemplo, para a determinar critérios de seleção de parceiros na cadeia de valor que demonstrem adotar sólidas práticas de sustentabilidade, para priorizar o engajamento em iniciativas de redução de carbono ou para estabelecer critérios de avaliação de terceiros suportados em análises de impacto ambiental;
  • No tocante às questões sociais, a matriz de materialidade ajuda a definir as espécies de desvios éticos em temas de diversidade, inclusão, equidade e outros que sejam relevantes para a avaliação de terceiros.  Alguns exemplos de desvios incluem práticas laborais abusivas, trabalho escravo ou infantil, violações de direitos humanos, baixo grau de diversidade observado nas diversas categorias de colaboradores, insatisfações nas comunidades do entorno associadas ao terceiro, e outros.  Essas informações são essenciais para assegurar que os esforços da organização no campo social estão razoavelmente espelhados em outras instâncias de sua cadeia de valor e, ainda mais importante, para deixar a organização a salvo de relacionamentos com terceiros que possam afetar negativamente a sua reputação;
  • No domínio da governança e da ética, a matriz de materialidade ajuda a destacar riscos associados a terceiros que possam demandar uma resposta enérgica, tais como corrupção, conduta antiética em negócios ou no relacionamento com reguladores, fraudes contábeis, práticas reprováveis no ambiente concorrencial e outras mais.  Nesta matéria, processos maduros de diligência de integridade de terceiros são o principal pilar de sustentação de um sistema de governança efetivo, que pode ser complementado com a verificação de estruturas semelhantes em terceiros com os quais a organização mantenha relacionamento, o que ajudará a forjar um ecossistema de negócios muito menos exposto a riscos e, ao mesmo tempo, mais convergente com os interesses dos diversos stakeholders.

Benefícios da Matriz de Materialidade na Gestão de Riscos de Integridade de Terceiros:

O primeiro e talvez principal benefício da matriz de materialidade na gestão de riscos de integridade de terceiros diz respeito à alocação estratégica de recursos.  A matriz de materialidade faz com que os recursos da organização sejam alocados onde são mais necessários. Ao concentrar esforços em processos e estruturas que detectem e façam a gestão de situações que representem maior ameaça aos interesses do negócio e de seus stakeholders, as organizações podem aprimorar suas estratégias de mitigação de riscos, reduzindo a probabilidade de graves consequências financeiras ou reputacionais.

A matriz de materialidade também potencializa a gestão proativa de riscos de integridade de terceiros, revelando questões críticas com a devida antecedência, para que medidas preventivas possam ser adotadas, evitando ou minimizando perdas financeiras, oscilações na cadeia de suprimentos, danos à reputação, restrições regulatórias ou legais, dentre outros impactos adversos.

Além disso, ao incorporar as preocupações dos stakeholders na avaliação de riscos, a matriz de materialidade reforça o alinhamento da organização com os princípios ESG, evidencia o seu compromisso com a transparência e práticas responsáveis, e favorece o engajamento com as diversas categorias de públicos (ou partes interessadas) conectados com o negócio, resultando em ganhos de confiança duradouros.

Finalmente, o exercício de desenvolver uma matriz de materialidade proporciona uma integração perfeita das considerações ESG na gestão de riscos.  Ao conceber sua formulação estratégica e tática levando em conta os riscos mais importantes aos olhos da própria organização e de seus stakeholders, as organizações asseguram uma convergência perfeita entre suas práticas de governança e suas iniciativas nas pautas ESG, contribuindo para a sustentabilidade de longo prazo e a proteção de valor do negócio.

Considerações Finais:

A matriz de materialidade é uma bússola valiosa para ajudar as organizações a navegarem rumo ao seu norte estratégico em perfeito alinhamento com seus stakeholders, otimizando os recursos à sua disposição.  Ao aproveitar os insights derivados desse exercício, as empresas certamente logram fortalecer a gestão estratégica de riscos, mas sobretudo podem definir suas ações nas pautas ESG em sintonia com as preocupações e expectativas de seus stakeholders, contribuindo fortemente com sua sustentabilidade.

Quando aplicada à governança de integridade de terceiros, a matriz de materialidade torna-se uma ferramenta proativa para organizações que buscam manter elevados padrões éticos, mitigar riscos e garantir a qualidade reputacional das relações em suas diversas cadeias de relacionamento, promovendo o desenvolvimento de um ecossistema íntegro de negócios.



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